Entre a Comédia e a Crítica Social: Decifrando O Durão(2015)
- Edudz
- 10 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
O filme O Durão (Get Hard), dirigido por Etan Cohen e lançado em 2015, reúne dois dos comediantes mais populares de sua época, Will Ferrell e Kevin Hart, para uma comédia focada na improvável amizade entre um milionário e um empresário comum. O longa-metragem explora temas como a classe social, o sistema prisional e o estereótipo racial, utilizando o humor para tocar em pontos que, de outra forma, seriam complexos de abordar.

A trama segue James King (Will Ferrell), um gestor de fundos de investimento milionário que leva uma vida confortável até ser acusado e condenado por fraude financeira. Sentenciado a dez anos em uma prisão de segurança máxima, King se vê desesperado para se preparar para a vida na cadeia. É então que ele conhece Darnell Lewis (Kevin Hart), dono de um pequeno lava-rápido, que é contratado por King para ensiná-lo a "sobreviver" na prisão. A escolha é feita com base em estereótipos raciais e preconceitos, pois King presume que Darnell tem experiência em atividades criminosas, o que está longe da verdade.
Com o objetivo de ajudar King, Darnell desenvolve métodos e atividades cômicas que, na visão dele, ajudariam o milionário a "endurecer" para a vida na prisão. O contraste entre os personagens é evidente: enquanto King é inocente e arrogante em relação a suas próprias capacidades, Darnell demonstra inteligência prática e uma compreensão mais realista da vida.

Will Ferrell e Kevin Hart trazem à tela uma química que se destaca e é, em grande parte, responsável pela maioria dos momentos cômicos do filme. Ferrell entrega uma atuação clássica de humor físico, encarnando o típico personagem excêntrico e ingênuo que já é uma marca registrada em sua carreira. Hart, por outro lado, é a voz da razão, mas com um toque de sagacidade que ajuda a criar momentos hilários.
Os dois personagens têm personalidades opostas que se complementam, e o timing cômico entre eles é bem executado, especialmente nas cenas que enfatizam o desconforto e o medo de King em relação à sua sentença. No entanto, alguns críticos consideraram que o talento de ambos poderia ter sido mais bem aproveitado em um enredo menos dependente de clichês e estereótipos.
O Durão aposta em um humor voltado para a sátira e a desconstrução de estereótipos, mas nem sempre de maneira eficaz. As piadas, muitas vezes, tocam em assuntos delicados, como a violência carcerária e preconceitos raciais, de uma maneira que para alguns espectadores pareceu excessivamente provocativa. O filme provoca risadas por meio de situações absurdas, como King tentando aprender a lutar ou criar um semblante ameaçador, mas a execução de algumas dessas cenas acaba reforçando estereótipos em vez de questioná-los.
As reações à abordagem cômica do filme foram divididas: enquanto alguns apreciaram a ousadia e a tentativa de tratar temas complexos através do riso, outros consideraram que a comédia não conseguiu superar o peso dos estereótipos e acabou sendo insensível em alguns momentos. A crítica apontou que o filme poderia ter feito uma crítica social mais afiada e refinada, enquanto manteve o humor leve, sem cair em alguns clichês já ultrapassados.

A direção de Etan Cohen marca sua estreia como diretor, e ele aposta em um ritmo ágil e cenas voltadas ao humor físico e exagerado. No entanto, o roteiro apresenta uma estrutura simples e previsível. Os elementos cômicos são amplamente construídos em torno do contraste cultural e das situações absurdas, mas algumas sequências parecem arrastadas, como se estivessem tentando prolongar o riso em vez de desenvolver melhor os personagens.
Por outro lado, é interessante ver a tentativa de Cohen de trazer à tona uma reflexão sobre o sistema prisional americano, ainda que de forma superficial. A ideia de que um homem branco e rico, como King, sente-se desesperado em enfrentar um sistema que historicamente afeta de forma mais brutal a população negra e pobre poderia ter sido uma abordagem potente para uma crítica social. No entanto, essa camada acaba sendo ofuscada pelas tentativas de humor e pela falta de profundidade no desenvolvimento dos temas.

O Durão teve uma recepção mista. Nas bilheterias, o filme teve um desempenho satisfatório, especialmente considerando o apelo de seus protagonistas. Entretanto, a crítica especializada destacou que o filme não conseguiu equilibrar sua abordagem cômica com o potencial de discussão que os temas levantados poderiam trazer. A tentativa de misturar comédia e crítica social é válida, mas, para alguns críticos, o filme acabou oscilando entre a comédia leve e o humor forçado.
Para o público, O Durão funciona como uma comédia de escapismo, onde o humor físico e as expressões caricatas de Ferrell e Hart roubam a cena. Quem espera uma análise mais profunda sobre os temas sociais abordados pode sentir que o filme falha em fornecer uma reflexão mais significativa. A decisão de optar pelo riso fácil, sem se comprometer em desafiar o espectador a pensar além da superfície, acabou limitando o impacto do longa no campo das comédias críticas.

Humor Leve para Temas Pesados:
Onde O Durão Acerta e Erra
O Durão é uma comédia que cumpre seu papel de entreter, mas que, ao lidar com temas sensíveis, acaba dividindo opiniões. Embora o filme tenha momentos cômicos genuínos, ele tropeça ao tentar abordar temas como racismo e desigualdade de forma leve. Os fãs de Ferrell e Hart provavelmente encontrarão boas risadas em suas performances, mas o filme, no geral, poderia ter se beneficiado de um roteiro mais cuidadoso e de uma abordagem mais inovadora.
No fim, O Durão é uma experiência que mostra a força da química entre seus protagonistas e oferece uma visão, mesmo que superficial, sobre os preconceitos e medos do sistema carcerário. Para aqueles que buscam uma comédia sem pretensões, ele cumpre o objetivo de divertir. Contudo, para o público que espera algo além do humor direto e físico, o filme pode deixar uma sensação de que poderia ter explorado seus temas de forma mais enriquecedora.
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